sexta-feira, 1 de abril de 2011

Quick pass #2 - Cláudio Telesca: a primeira porta para o FABR


Aos 48 anos, Cláudio Telesca se tornou um dos nomes mais importantes do FABR (futebol americano no Brasil) quando a palavra é ensino. Com esforço, ele conseguiu fazer um programa de instrução inédito que teve ajuda até da NFL. “Entramos em contato com o André J. Adler – criador do Torneio Touchdown – em 2001 e, com uma ajuda da NFL conseguimos material para começar a ensinar em algumas escolas piloto”.


Apesar de também ser uma modalidade, Telesca usa o Flag para divulgar o esporte no país. “Ao fazer isso, eu tiro o pensamento de meninos, que entre 10 e 14, pensam que o futebol americano é só porrada, que vai jogar para bater. Como não tem contato, ele encontra um jogo para se divertir e, depois, pode mudar para o esporte de contato”.

Confira abaixo a entrevista exclusiva com o professor:

Como você começou a dar aula de Futebol Americano?
Eu e um colega meu tínhamos uma ânsia de por em prática o futebol americano aqui no Brasil. Então, graças a internet e a algumas idas aos EUA, descobrimos o Flag Football, que é o futebol americano sem contato. Daí foi o primeiro passo para podermos por em prática o jogo.

Como foi a aceitação dos alunos quando tiveram contato com o jogo?
Primeiramente, nós fizemos experimentos nas nossas escolas e vimos que teve uma boa aceitação dos alunos. Não é um jogo que faz parte de nossa cultura, mas o aluno de escola pública sabe que existe o jogo, não sabe jogar nem as regras, mas sabe o que é uma bola de futebol americano. O Flag é a ferramenta mais fácil para ele entender o esporte. Então, por cinco anos, fizemos campeonatos mirim, pré-mirim e infantil da categoria nas escolas pilotos. Todos com muito sucesso.

Como você ensina as crianças que nunca tiveram contato com o esporte?
Quando eu trabalho com crianças eu tento ser o mais simples possível. Quando uma criança pega na bola eu falo, "como você lança uma pedra?" Pronto. Às vezes, é só isso que precisa, e a criança já entende como funciona. Com o tempo e o interesse, ela pode melhorar cada vez mais. A ideia é ajudar no primeiro passo.

E que cuidados tem que se tomar para que a criança não se desanime com o esporte?
Normalmente, um aluno se desanima quando se machuca logo na primeira aula, acaba não querendo mais saber do esporte. O Flag é um jogo divertido por isso. No começo, eu inclusive uso bolas macias, que não machucam. Assim diminui ainda mais o risco. Depois, caso a pessoa queira ir para o jogo de contato, eu indico um time e lugares onde ela pode encontrar.

Claudio Telesca conversando com a equipe do Play-action NFL.
Algum aluno seu continuou com o esporte fora da escola?
Na periferia, na região do Jardim Ângela, alguns alunos meus fizeram marcações de flag na rua, pintaram no chão. Eles me pediram uma bola e eu dei. Já tive alunos também fazendo seletivas e jogando alguns campeonatos de flag.

Você dá aulas apenas em escolas?
Eu também curso clinicas, em associações, ONGs, escolas públicas e particulares. Eu já presto serviços há 11 anos para rede Sesc, por exemplo. São clinicas de iniciação, para aquele que nunca teve contato com a bola oval. O objetivo é que o aluno entenda o jogo, como é que se marca um touchdown... assim, quando ele puder assistir a uma partida, ele conseguirá acompanhar tranquilamente.

Você tem ligação com alguma liga no Brasil ou tem a intenção de fazer uma?
Eu sou um professor de educação física. Eu nunca tive a intenção de me juntar a qualquer liga, ou fazer uma liga. Eu gosto de formar o aluno, de moldar o aluno e ajuda-lo a entender o futebol americano. Não trabalho com competições, mas caso um aluno meu queira praticar o esporte aqui no Brasil eu indico alguns times. Eu não me especializo em táticas, nem nada, eu me interesso na formação.

Você também ensina professores sobre o futebol americano?
Dou um curso de capacitação com os professores e eles aplicaram o esporte em suas aulas. Em meu site, você pode encontrar uma apostila de iniciação que eu forneço de graça. Há pouco tempo, um jogador do Cuiabá Arsenal queria adotar a apostila, pois eles fizeram um convênio com a prefeitura de Cuiabá para escolhinhas de flag. Ele me escreveu para ver se eu autorizava para ver se os professores podiam trabalhar com o material. Eu disse claro, normal, eu não seguro informação. Eu quero mesmo que o esporte se desenvolva mais.

Flag Football: futebol americano sem contato.
Existe alguma didática ao ensinar esses profissionais?
Nas minhas clinicas, para os professores, eu uso de algumas comparações com outros esportes. Eu comparo o QB com o levantador do vôlei. Antes do saque adversário, o levantador indica com sinais qual será a jogada do time. É a mesma coisa do QB. Antes da jogada, ele reúne seus jogadores e diz qual jogada fazer. Isso facilita na compreensão dos profissionais.

Que atitudes você acha que ajudariam a divulgar mais o esporte?
Nós estamos em um país em que o garoto não nasce com a bola oval. Se você entrar no meu site, eu tento traduzir os termos, até porque aqui quarterback não significa nada para quem não conhece o futebol americano. Se você entrar no meu site, eu falo lançador, por exemplo. Acho que o caminho é trazermos os termos para o português. No começo do futebol existia o center alpha, hoje é zagueiro. Acho que uma mudança ajudaria o FABR.

A própria NFL começou com o College Football, que apareceu bem antes. Você acha que o futebol americano nas universidades é um dos caminhos para o Brasil?
Na verdade, a estrutura do nosso esporte não está baseada na formação de atletas pelas Universidades ou pelas escolas. A nossa base de formação de atleta são os clubes. Por isso que acho importante essas parcerias que alguns times vem fazendo com equipes de futebol. A nossa estrutura esportiva é essa, diferente dos EUA. Lá, a formação começa no High School, passa pelo College, o Draft e chega ao profissionalismo. Quer dizer, o nosso caminho aqui é outro.

Apesar do esporte estar em desenvolvimento no Brasil, muitos times fazem seletivas. O que você acha delas?
Eu acho que os times deveriam dar um pouco mais de atenção para quem procura por eles. Essas seletivas não me agradam. O esporte está se desenvolvendo, a pessoa está fazendo um esforço para praticar o FABR e é recusada? Acho errado. Deixa o cara treinar com outras pessoas e, um dia, ele não precisa ir para o jogo. Às vezes, esse cara pode virar um jornalista, ser bom de marketing... ele pode divulgar o time de outras maneiras.

O Coaching Season, evento que trará dois técnicos americanos para o Brasil, começa nesse sábado. Qual a importância do evento?
É muito importante trazer técnicos dos EUA, principalmente com respeito às equipes competitivas. Eu tive a oportunidade de estar na final do ano passado da LBFA (Liga Brasileira de Futebol Americano) e eu senti uma evolução tremenda na parte técnica, porém um pouco de deficiência na parte de bloqueio, nos fundamentos de bloqueio. Isso, a gente consegue melhorar apenas com esse intercâmbio com os americanos.

Caso queira entrar em contato com Cláudio Telesca, acesse:


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Um comentário:

  1. Sempre admirei e apoiei o trabalho realizado pelo Prof. Telesca. Para falar a verdade, sua entrevista acabou sendo uma das primeiras de muitas que foram realizadas no Sideline Brasil (na era Blog) do portal.
    Um dos seus trabalhos, como cartilhas, segue no Sideline Brasil (*pdf), para quem quiser ter acesso sobre esse grande divulgador do esporte.

    Grande Abraço

    Jayson Braga

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